No Brasil quem é amigo do Rei não precisa ser competitivo.

Eu tenho um cliente aqui em Xangai que ganhava a vida com a assimetria da informação: se você precisava importar algo da China ele fazia o trabalho de pesquisar todos os fornecedores daquele tipo de produto, te passava a lista e eventualmente negociava com o(s) escolhido(s).

Quando surgiu o Alibaba, a assimetria da informação deixou de existir: você mesmo podia pesquisar em milhares de fornecedores quanto ficava um determinado produto. Além de mais rápido, o Alibaba era mais barato para o comprador: a pesquisa era gratuita.

A empresa do meu cliente fechou. Exceto pelo meu cliente, todos saíram ganhando com o fim da assimetria da informação: os compradores achavam os produtos com maior facilidade e os vendedores estavam expostos a mais compradores.

“Mas pq vc está falando sobre isso, Ouriço?”

Não é segredo que um monte de empresas nacionais compram todos os seus produtos na China e aplicam suas marcas antes de os colocar à venda no Brasil.

Durante muitos anos esses vendedores tiveram a vantagem da assimetria da informação ao seu favor: o consumidor final não sabia como comprar diretamente de lojistas na China, mas eles sabiam o caminho das pedras.

Vieram banggood, aliexpress e outros sites que destruíram a assimetria da informação: você, pessoa física, poderia comprar de um varejista chinês sem nenhuma dificuldade, pagando até mesmo com boleto bancário.Foi aí que as pessoas viram que os mesmos produtos vendidos aqui no Brasil por X custavam em um varejista Chinês entre 1/5 e 1/10 do preço no Brasil, isso já com o frete para o nosso país.

Claramente a gordura da marca Brasileira é enorme pois: 1) ela não compra pelo preço de consumidor final, compra como atacadista; 2) o vendedor não paga comissão para a plataforma, o que barateia ainda mais o preço e 3) o comprador compra containers inteiros de produtos, o frete é minúsculo quando dividido pela quantidade de produtos que cabem em um container. Em qualquer mercado saudável essa competição entre os varejistas seguraria o preço dos comerciantes brasileiros.

Mas nossos comerciantes estavam muito acostumados às enormes margens do tempo da assimetria da informação. Aí só resta às empresas brasileiras o rent seeking, que é quando um agente privado busca garantir seus interesses econômicos manipulando o ambiente a seu favor. E como fazem isso? Convencendo o governo a enfiar uma tributação de quase 100% sobre o valor do produto + frete.

No Brasil quem é amigo do Rei não precisa ser competitivo.