Como escolher seu primeiro costume

Ouriço de Cartola
9 min readJun 26, 2023

Vai comprar o seu primeiro costume e não sabe por onde começar? Vem comigo que eu te explico! A primeira coisa a entender é a diferença entre terno, costume, paletó e blazer. Apesar de no Brasil se usar comumente as palavras terno, costume e paletó como sinônimos, elas designam coisas MUITO diferentes.

O terno, como o próprio nome indica, é a roupa composta de três peças (terno=três): calça, paletó e colete. Preferencialmente as três peças são do mesmo tecido. É a peça mais formal entre as que vamos falar nesse fio. Praticamente não se usa no Brasil.

O costume é o traje composto apenas de calça e paletó, ambos feitos com o mesmo tecido.

Paletó é a jaqueta de um costume ou terno. Blazer é um “paletó” vendido sem a calça. “Ouriço, posso usar o paletó como blazer?” Nenhuma força da natureza vai te impedir, mas paletó não é blazer e não deve ser usado como tal. “Que frescura, Ouriço! o que é que tem de errado em usar o paletó como blazer?!?”

1) Se você usar o seu paletó como blazer, você vai terminar lavando mais vezes o paletó do que a calça do costume. Rapidamente, eles ficarão com tonalidades diferentes e você perdeu o costume.

2) O paletó é mais estruturado (tem ombreiras e lapela geralmente mais largas) e modelagem próxima ao corpo. O blazer, por ser mais casual, não é estruturado (não tem ombreira e a lapela geralmente mais estreita).

3) Via de regra o blazer tem uma modelagem mais folgada que o paletó, para permitir que você coloque mais camadas de roupa por baixo (veja a foto abaixo).

Agora que você sabe a diferença entre terno, costume, paletó e blazer, vamos aprender como comprar um costume e não sair parecendo um Didi Mocó nem um Sérgio Moro.

Não importa se você é alto, baixo, gordo, magro, barrigudo ou sem barriga. O paletó tem que vestir bem você e ter um bom caimento. As lojas que vendem este tipo de peça possuem costureiros no local para fazer todos os ajustes necessários para que a roupa vista o melhor possível.

Obviamente, quanto menos ajustes precisarem ser feitos no costume, mais fácil o trabalho do costureiro e menos chances de dar errado, então a ideia é procurar um costume que já fique quase perfeito no seu corpo e fazer apenas os ajustes necessários.

“E como eu sei que um paletó está perfeito no meu corpo, Ouriço?” A primeira coisa a olhar é o ombro do paletó — ele deve acompanhar o seu ombro, jamais passar dele (visual Didi Mocó) ou ficar mais curto.

A segunda coisa é quanta folga ele tem em relação ao seu corpo. O paletó abotoado (sempre só o botão de cima, nos paletós de dois botões ou o do meio nos de três) deve permitir que você enfie a mão direita nele sem dificuldade e sem perder o caimento.

Se houver qualquer dificuldade no teste anterior, o paletó está apertado, tente um número maior. Se o paletó permite que o punho entre, ele está muito folgado; tente um número menor.

O passo seguinte é olhar o comprimento. O paletó deve terminar exatamente onde terminam os bolsos da calça, cobrindo-os completamente. Se não cobrir o bolso, tente um número maior; se passar mais do que um dedo, tente um número menor.

O item seguinte é olhar o comprimento das mangas. Elas devem terminar no meio daquela bolinha de osso imediatamente antes do pulso. Se não terminar lá (mas o resto do paletó estiver perfeito), peça para que a loja ajuste.

Por último, olhe a cintura, ela deve fazer uma curva: definindo a silhueta e criando um torso em V.

Agora que você já sabe escolher o paletó e verificar se ele está vestindo corretamente, vamos passar para a calça. A primeira coisa a saber é que calças com pregas eram o estilo do seriado Miami Vice, que passou entre 1984 e 1989, um período não muito elegante.

Agora você escolheu uma calça sem pregas, vamos falar de comprimento. Existem basicamente 4 opções de comprimento de calça, em ordem de “modernidade”:
1) quebra cheia;
2) meia quebra;
3) sem quebra;
4) pula brejo/caça caranguejo no mangue.

A quebra cheia é o mais tradicional, a característica dela é um grande acúmulo de tecido no fim da calça. Calças com pernas retas geralmente são usadas com quebra cheia. Só deve usar calças com pernas retas quem tem as batatas da perna muito grossas.

Meia quebra é quando o tecido da calça faz uma ligeira dobra na frente, por repousar um pouco no sapato. Este comprimento funciona tanto com calças com a perna reta quanto naquelas que a perna afunila em direção à canela. É uma opção mais moderna do que a quebra cheia.

Sem quebra. Aqui entramos no território dos antenados. A calça mal encosta no sapato. Em hipótese alguma, use com calças de corte reto na perna (ou seja, as que começam e terminam a perna sem variar a largura). A menos que você seja o “descolado” da turma, evite esse modelo.

Caçando caranguejo no mangue: dizem ser um ótimo método contraceptivo.

Curiosidade sobre as calças de costume: tradicionalmente, as calças feitas pelos alfaiates da Saville Row (rua londrina que concentra os melhores produtores de ternos sob medida do mundo) não possuem elos para a passagem de cinto. O terno feito especificamente para o seu corpo não precisa de um.

Dica para quem tem uma barriga proeminente: façam como o chef Eric Jacquin e usem suspensórios ao invés de cinto para segurar a calça. Se puderem usar terno ao invés do costume, melhor ainda, pois o colete cobre o suspensório.

“E como é que eu sei que um costume é de qualidade, Ouriço?” A primeira característica de um terno de qualidade é um bom tecido. Evite costumes feitos de tecido sintético, prefira os de lã fria. Lã fria é geralmente vendida com números: super 120, super 180, etc. Quanto maior o número, mais refinado o tecido e mais suave o seu toque. O tecido mais fino é menos quente porém menos resistente.

Depois de se assegurar que está comprando o costume em lã fria, é hora de olhar o forro interno. Idealmente, o forro interno do costume deve ser 100% de seda. Porém, nunca vi um paletó à venda em uma loja brasileira cujo forro não fosse sintético.

O forro sintético é bem menos confortável que o de seda. Alternativamente ao forro sintético você pode optar por um paletó sem forro. Várias marcas brasileiras já estão vendendo peças assim. Entre o forro sintético e o sem forro, eu preferiria esse último.

O terceiro item a averiguar num paletó é se todos os bolsos funcionam. Por mais que você não vá usar os sete bolsos de um paletó,a presença de bolsos meramente decorativos (ou seja, nos quais é impossível colocar qualquer objeto) é sinal de que o fabricante economizou até o último centavo.

O quarto item é olhar se a casa do botão da lapela é meramente decorativa ou se realmente é furada. Ela é usada para colocar a boutonniere (aquela flor da lapela) usada pelos padrinhos em um casamento.

O quinto item a ser checado é se os botões da manga do paletó funcionam. Eles servem para você abrir a manga do paletó para lavar as mãos sem precisar arregaçar as mangas (o que amassa o paletó) ou tirar a peça (o que dá trabalho e você nem sempre tem onde a pendurar).

Esse é outro item que eu nunca vi em um paletó pré-pronto no Brasil. Uma dica: se o seu paletó tem mangas que abrem, não sejam cafona de deixar o último botão desabotoado só para mostrar que a sua vestimenta “é top”.

Por último, olhe os botões do costume. Os melhores costumes têm botões de chifre ou madrepérola. Como saber se o botão é de um desses materiais: a peça não terá dois botões exatamente iguais.

Agora, vamos falar de cores. Se você vai comprar o primeiro terno/costume, compre um cinza (entre grafite e chumbo) ou azul marinho. São as cores mais versáteis e que permitem o uso tanto de dia quanto à noite.

Um erro comum das pessoas ao comprar o primeiro costume é pensar que o preto servirá como coringa. Nada mais distante da realidade. Costume preto só em casamentos noturnos (mas o azul marinho e o chumbo cumprirão muito bem o papel) ou em velórios.

Outra coisa a se evitar na compra do primeiro ou único costume são padrões como window pane (quadriculado) e risca de giz. Como esses são padrões muito marcantes, todos vão lembrar que você sempre usa o mesmo paletó. Deixe-os (e o preto) para quem tem mais de cinco costumes.

Entretanto, independentemente do tamanho da sua coleção de ternos e costumes, jamais chegará o momento adequado para uma peça com tecido brilhante.

Escolhido o costume, algumas dicas de como montar o resto do visual:
a) se você vai ter apenas um costume (e ele for cinza ou azul marinho) você pode usar sapatos sociais nas cores marrom escuro, whisky ou preto;
b) o cinto deve ser da mesma cor do sapato;

c) se usar relógio, use relógio social (relógio de perfil baixo, com pulseira de couro na cor do calçado, sem lume nos números ou ponteiros);
d) não há nada errado em não usar relógio;
e) ninguém nunca errou ao usar uma camisa social branca 100% algodão;

f) ninguém jamais acertou usando uma camisa social preta com um costume;
g) azul claro ou rosa claro são cores de camisas alternativas à branca, mas requerem mais cuidados para não errar (evite com o costume azul marinho);

h) use meias combinando com a cor da calça;
i) jamais meias grossas como as de praticar esportes;
j) se for usar um lenço e ainda não estiver familiarizado com as diversas dobraduras e formas de combinar, aposte na dobra presidencial com lenço branco e camisa branca.

l) jamais use gravata mais clara que a camisa;

m) a gravata deve encostar no cinto. Jamais ficar mais curta que ele (exceto, obviamente, as gravatas borboleta) ou passar dele;
n) se for usar prendedor de gravata, prefira os discretos, sem enfeites, e que tenham 3/4 a 7/8 da largura da gravata.

o) a largura da gravata deve ser proporcional à largura do corpo (nada de magrelos com gravatas largas como lençóis ou gordinhos com gravatas skinny)

p) se for usar abotoaduras, prefira as discretas, sem marca aparente. Abotoaduras exaltando uma marca são coisa de jacu (estou olhando para você, montblanc).

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Ouriço de Cartola

Aqui se fala de atracamento de navio a zurro de mula. AWIN